quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Homens do Mar - Francisco Correia Marques - 29

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Capitão Francisco Correia Marques

Francisco Correia Marques nasceu em Ílhavo a 14 de Dezembro de 1930, sendo um dos filhos de uma prole de oito irmãos, dos quais três rapazes, todos oficiais da Marinha Mercante, embora, um deles, por doença, nunca tivesse chegado a experimentar o mar. Quer do lado de sua Mãe, Nazaré Correia, como do lado de seu Pai, António Marques, existia uma vasta tradição familiar de actividades ligadas ao mar.
Depois de completar o curso complementar dos liceus, em Aveiro, foi para Lisboa para frequentar o curso de pilotagem na Escola Náutica, que terminou em 1949. Era portador da cédula marítima nº 115236, passada na Capitania do Porto de Lisboa em 8 de Agosto de 1949.
Com estes antecedentes familiares, só o mar o podia esperar……….
Do casamento com Maria dos Prazeres Valente Labrincha (a Zerinhas), nasceram dois rapazes, o António Augusto e o Francisco e a Maria do Rosário. O Francisco tirou o curso de oficial da Marinha Mercante, chegando a andar embarcado com o Pai.
Francisco Marques iniciou a pesca ao bacalhau, nas campanhas de 1949 (uma viagem) e de 1950 (duas viagens),  como piloto do arrastão São Gonçalinho, sob o comando de seu tio, Francisco dos Santos Calão (1949 e 50) e de José de Oliveira Rocha (2ª viagem de 1950). Este, imediato nas duas primeiras viagens, na terceira, passou a capitão, tendo sido substituído por Eduardo Pereira Afonso, de Lisboa. O São Gonçalinho, mandado construir igualmente pela EPA, nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, fez a sua primeira viagem em 1948.
Nas safras de 1951, 52 e 53, passou para a pesca à linha, a sua grande paixão, como imediato do lugre-motor, de madeira, Adélia Maria, sob o comando de seu sogro, Augusto dos Santos Labrincha Laruncho. O lugre, da praça de Aveiro, foi mandado construir para o armador José Maria Vilarinho, em 1948.
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O lugre Adélia Maria, entre botes, em mar chão…
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Na campanha de 1954 assumiu o comando desse lugre, onde se manteve sete anos, até 1960. Entre os diversos imediatos que levou, durante as safras de 1956, 57e 58, conta-se o ílhavo António José Pereira Teles.
A bordo do lugre Adélia Maria, anos 50…

Francisco Marques, nas safras de 1961 e 62, transferiu-se para capitão do navio-motor, em aço, Capitão José Vilarinho, construído para José Maria Vilarinho, nos Estaleiros Navais do Mondego, Figueira da Foz, em 1954.
Interrompeu a sua actividade, para voltar, de Novembro de 1962 a Fevereiro de 1963, à Escola Náutica, para fazer o curso complementar de pilotagem.
O navio-motor Capitão José Vilarinho

Na campanha de 1963, embarcou de imediato no São Ruy, navio-motor em aço, da Empresa de Pesca de Viana, sob o comando do conterrâneo  Joaquim Fernandes Agualuza. No ano seguinte, 1964, assumiu o cargo de capitão.
Chegou a hora de mudar de vida e de terra e, de casa às costas, o Cap. Chico, de 1964 a 1972 e de 1974 a 1975, suspendeu a sua vida no mar e trabalhou na Parceria Geral de Pescarias, na Azinheira (Barreiro), como «capitão de terra».
Em 1973, voltou aos mares da Terra Nova e Groenlândia. Foi desafiado a exercer o cargo de capitão no Creoula, a última viagem do velho lugre-motor. O Francisco tinha saudades do mar, em todas as suas vivências, desde o mar de senhoras ao de vagas alterosas, desde os gelos perigosos e brumas imprevistas e cerradas às calmarias azulinas, reflexo de céus esplendorosos..… O «nosso capitão» era daqueles a quem o mar fazia falta, como suporte vital, além da família, que sempre levava bem juntinho ao coração.
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Pescador entre pilhas de botes, no Creoula, em 1973

Com as mudanças inevitáveis dos processos de pesca, em 1976, depositou o saco no convés do navio, para, desta vez, comandar o Neptuno, navio-motor, em aço, no qual faria a sua última viagem, em 1986. O Neptuno, tendo sido construído para a Parceria Geral de Pescarias, nos Estaleiros de São Jacinto, em 1958, foi transformado em navio de redes de emalhar com lanchas, em 1971.
Ao leme, no navio-motor Neptuno. 1978
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Em final de rota, nos anos 80 e no começo da década de 90 orientou cursos de formação em empresas de pesca e no Sindicato dos Pescadores de Aveiro.
Tendo acabado a sua carreira profissional, voltou à terra natal. Conhecedora do seu saber, disponibilidade, parentesco e vizinhança, propus-lhe ser o supervisor técnico de um documentário À Glória desta Faina, a apresentar no auditório do Museu, em Novembro de 1989. Casas cheias…Daí a uma colaboração importante, sistemática e valiosa com o Museu Marítimo e Regional de Ílhavo, iniciada em 1992, foi um passo. Vivemos um tempo de satisfação, de paixão, cumplicidade e entusiasmo.
De 1994 a 1999, na Associação dos Amigos do Museu, foi seu vice-presidente.
Desafiados pela editora Quetzal, assumimos a co-autoria, do livro Faina Maior – A Pesca do Bacalhau nos Mares da Terra Nova, publicado em 1996. E com que entusiasmo e enlevo!... Premiado com o «Leme do Ano», A Faina Maior, com  o apoio da Associação dos Amigos do Museu, já teve mais duas edições (2011 e 2015).
Entre Agosto e Setembro de 1998, voluntariamente, foi Director de Treino de Mar na viagem do Creoula ao Canadá, integrada no projecto De Novo na Terra Nova. Era carinhosamente tratado pelo Avô-barbas.
Perante uma reviravolta inesperada, nos órgãos directivos do Museu, o Cap. Chico Marques, entre finais de 1999 e 2002 assumiu a direcção executiva do Museu Marítimo de Ílhavo.
Escreveu vários artigos sobre memórias da pesca do bacalhau e temas de navegação, tendo participado em diversas conferências e programas de televisão.
Nesta última fase, vivia intensamente o mar, em terra...
Por tudo quanto foi recordado, foi-lhe atribuída, e bem, a medalha do Concelho, em ouro, em 16 de Abril de 2001.
Já bastante debilitado, proferiu a sua última palestra, em 18 de Março de 2006, da qual o Museu Marítimo de Ílhavo publicou a brochura  Navegação dos Bacalhoeiros nos Mares da Terra Nova.
Tendo lutado contra uma doença, qual Poseidon contra mar encrespado, sairia, para nosso lamento, vencido. E assim nos deixou a 2 de Novembro de 2006,  há cerca de  dez anos, perante a dor e a saudade de todos os familiares, amigos e dos que, de perto, conviveram com ele. Prolongou a sua vida de mar em terra, nesta terra que foi, sobretudo, de gente do Mar
Imagens – Arquivo pessoal e gentil cedência da Família
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Ílhavo, 6 de Dezembro de 2016
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Ana Maria Lopes
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